segunda-feira, 2 de junho de 2008

COMEMORAÇÂO RELIGIOSA DE CORPUS CHRISTI

CORPUS CHRISTI

A comemoração cristã, de quinta-feira, após o domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece após o domingo de Pentecostes, é denominada Corpus Christi, do latim Corpo de Cristo, a qual a Igreja realiza, associada a uma procissão, que celebra a presença substancial de Cristo na Eucaristia. Ela atende o Art 944 do Código Canônico, que determina ao Bispo promovê-la, onde for possível, dentro de um contexto público, pela procissão, como testemunho do povo à veneração da Santíssima Eucaristia. Na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, há uma exigência, pelo Art. 395, da presença do Bispo nesse ato, e sua ausência só será justificada por uma causa justa.

A procissão de Corpus Christi, acontece posterior a missa, que conta com a presença dos católicos que tem um significado pelo comparecimento, obrigatório, na forma que for estabelecida pela Conferência Episcopal do país.

A comemoração de Corpus Christi começou desde o século XV, em Roma, com o Papa Nicolau XV , período de 1447 a 1455, com a procissão que sai de São João de Latrão até Santa Maria Maior. Atualmente o local é Via Merulana, que por motivos de obras do retilíneo ao pontificado de Gregório XIII, só teve condições de acesso a partir de 1575.

A procissão, durante três séculos, teve por costume sua trajetória guiada pelos Papas, a partir de 1870. Com a tomada de Roma caiu em desuso, o qual foi retomado pelo Papa João Paulo II, em 1979.

Na Alemanha, acontece desde o século XVIII, quando a Igreja Católica sentiu a necessidade de enfatizar a real presença do “Cristo todo” no pão sagrado.

Em Lieja, na Bélgica, no fim do século XVIII, aconteceu o Movimento Eucarístico cujo o centro foi a Albadia de Cornillon, fundada em 1124, pelo Bispo de Lieja.

O resultado desse Movimento foi a implantação de vários costumes eucarísticos como: exposição e Benção do Santíssimo Sacramento, uso do sino na Missa, por hora da elevação, e a festa de Corpus Christi.

A festa de Corpus Christi foi propiciada pela priora de Abadia, Santa Juliana de Mont Cornillon, que, na época, foi considerada enviada por Deus para promover essa realização. Ela nasceu em Retines, perto de Lieja, Bélgica, em 1193. Ficou órfã quando pequena e educada pelas freiras Agostinas em Mont Cornillon. Quando cresceu fez sua profissão de religiosa e, mais tarde, tornou-se superiora dessa comunidade.

Santa Juliana, desde jovem, tinha grande veneração ao Santíssimo Sacramento e nutria a esperança de que ainda houvesse uma festa especial em sua homenagem. Nesse época, ela passou a ter visões da Igreja sob a aparência de lua cheia com uma mancha negra. Para ela isso significava a ausência da solenidade tão desejada. Assim, Juliana comunicou a suas visões a Dom Roberto de Thorete, o então bispo de Lieja.

O bispo ficou impressionado e por nessa época os bispos terem direito de ordenar festas para suas dioceses é que 1246, evocou um sínodo para ordenar que a celebração fosse feita no ano seguinte.

Dom Roberto não viveu para ver sua determinação realizada, pois morreu em 16 de outubro de 1246.

A festa foi realizada pela primeira vez no ano seguinte , na quinta-feira posterior à festa da Santíssima Trindade.

Além de Dom Roberto, as visões foram de conhecimento do douto Domenico Hugh, mais tarde núncio pontifício dos Paises Baixos e, Jacques Pantaleon que,e nessa época, era arquidiácono e posteriormente, Papa Urbano IV.

O então Papa, por hora da efetivação da comemoração, ordenou a escritura de um ofício e nessa ocasião transformou-se em decreto, que se encontra preservado em Binterim junto com algumas partes do ofício. (Denkwurdigkeiton .V.I, 276). O bispo alemão conheceu os costumes e o instalou por toda a atual Alemanha.

Santa Juliana de Mont Cornillon, morreu em 5 de abril de 1258, na casa das monjas Cistercienses em Fosses e foi enterrada em Villieres, porém com seu desejo alcançado e certa de sua propagação definitiva.

O Papa Urbano IV, nessa época, tinha sua corte em Orvieto, um pouco ao norte de Roma, próximo a localidade chamada Bolsena onde aconteceu o milagre por volta de 1263 a 1264, chamado Milagre de Bolsena. Se apresentou pelo acontecido a um padre que tinha dúvida de que a Consagração fosse real e durante uma Missa, no momento de partir a Sagrada Forma, viu sair dela sangue do qual o corporal foi se imergindo e, assim, tornou-se uma relíquia levada em 19 de junho de 1264, em procissão em Orvieto.

Por esse prodígio, o santo Padre, aceitou as petições de vários bispos e fez com que se estendesse a festa de Corpus Christi a toda a Igreja através da bula “Transiturus” de 8 de setembro do mesmo ano, fixando a quinta-feira apos as oitavas de Pentecostes, permitindo indulgências a todos os que participassem do ofício e assistissem da Santa Missa.

Segundo alguns biógrafos, o Papa Urbano IV, encarregou um ofício a “Liturgia das Horas” a São Boa-ventura e São Tomaz de Aquino e quando o mesmo realizava sua leitura, em voz alta, São Boa-ventura ao mesmo tempo colocava em pedaços seu oficio.

Os decretos não falam da questão adotada de indulgência nas procissões. Entretanto, foram aplicadas pelo Papa Martinho V e Eugênio IV, as quais se apresentaram muito comuns a partir do século XIV.

O Papa Urbano IV, morreu em 2 de outubro de 1264, e sua morte provocou a difusão da festa, mas por outro lado, o Papa Clemente V encarregou-se do assunto levando-o ao Concílio Geral de Viena, em 1311, mas, só em 1317 é que é promulgada a recopilação das leis, por João XXII e, assim, a festa é assegurada a toda a Igreja.

O Concílio de Trento, finalmente, declara a introdução do costume na Igreja de Deus, determinando a festividade todos os anos com a veneração a solenidade, levando o Santíssimo na procissão às ruas pela conotação pública, reverenciando honorificamente a expressão da gratidão cristã, à memória inefável e verdadeira, ao benefício sobre a morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

No Brasil, a festa foi introduzida pelos portugueses, seguramente pelo Padre Manoel da Nóbrega, em 1549, na Bahia, pela carta que informava: “Outra procissão se faz dia de Corpus Christi, muito solene, em que jogou toda a artilharia que estava na cerca, às ruas muito enramadas, houve danças e invenções à maneira de Portugal”. (Cartas do Brasil, 86, Rio de Janeiro, 1931).

Assim, mostrava-se uma reprodução já que as procissões portuguesas eram esplendorosas com participação de tropas, fidalgos, cavaleiros, andores, danças e cantos. Os oficiais de gala cercavam a imagem de São Jorge, padroeiro de Portugal, que seguiam a procissão acomodada em um cavalo.

Passou a ser também, em nosso país, uma comemoração incorporada aos costumes: religioso e pagão.

Liete Oliveira

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